quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Covers e intérpretes - Raul Seixas

  • Baia , Ouro de Tolo
  • Barão Vermelho, No fundo do quintal da escola e Só pra variar
  • Biquini Cavadão, O Carimbador Maluco
  • Blues Etílicos, Canceriano sem Lar
  • B NEGÃO , É fim do mÊs
  • Caetano Veloso, Maluco Beleza
  • Cazuza, Cavalos Calados
  • Cidade Negra, A Mosca na Sopa
  • Chitãozinho e Xororó, Tente Outra Vez
  • CPM 22, Al Capone
  • CPM 22, O Carimbador Maluco
  • Deborah Blando, A Maçã
  • Detonautas , Metamorfose Ambulante, por quem os sinos dobram, Sociedade Alternativa
  • Elba Ramalho, S.O.S.
  • Erasmo Carlos, Medo da Chuva
  • Falcão, Tu És o MDC da Minha Vida
  • Gabriel o Pensador, Rockxixe
  • Humberto Gessinger, Trêm das 7
  • Lobão, o Rock do Diabo
  • Los Hermanos, Maluco Beleza
  • Marcelo D2 , Bnegão e Dazaranha , Como vovó já dizia
  • Maria Bethânia, Gita
  • Milionário e José Rico, Gita
  • Mister Jack, Trem das Sete
  • Nando Reis, Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás
  • Nenhum de Nós, Tente Outra Vez
  • Nasi, Sociedade Alternativa
  • Ney Matogrosso, Mata virgem
  • O terço, várias
  • Paralamas do Sucesso , Sociedade Alternativa
  • Paulo Ricardo, How Could I Know
  • Pitty, EU sou Egoísta, Não Pare na Pista
  • Raimundos, Não Pare na Pista
  • Rita Lee, Gita
  • RPM, Gita
  • Sandra de Sá, Tente Outra Vez
  • Secos e Molhados, Metamorfose Ambulante
  • Simone, Prelúdio
  • The Fevers, Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás
  • Titãs, Aluga-se
  • Toni Garrido, Gita
  • Ultraje a Rigor, Rock das Aranhas
  • Vanguart, Medo da Chuva, Al Capone, Rock das Aranhas
  • Velhas Virgens , Rock das Aranhas
  • Vivendo do Ócio, Carimbador Maluco, A Verdade Sobre a Nostalgia
  • Zeca Baleiro, Como Vovó já Dizia
  • Zé Ramalho, As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor, Ouro de Tolo, Metamorfose Ambulante, O Trem das 7, S.O.S., How Could I Know/Como eu ia saber?, Prelúdio, Você Ainda Pode Sonhar (Lucy in The Sky With Diamonds) entre outras.
  • Zélia Duncan, Metamorfose Ambulante

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Livros

  • 1983 - As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor – Raul Seixas - Shogun Arte, RJ
  • 1990 - Raul Seixas por ele mesmo – Sylvio Passos – Martin Claret Editores, SP
  • 1992 - Raul Seixas, uma antologia – Sylvio Passos e Toninho Buda - Martin Claret Editores, SP
  • 1992 - O Baú do Raul – Kika Seixas e Tárik de Sousa - Editora Globo, SP
  • 1993 - Eu quero cantar por cantar – Ayrton Mugnaini Jr. – Nova Sampa Editora, SP
  • 1993 - Raul Seixas e o Sonho da Sociedade Alternativa – Luciana Alves - Martin Claret Editores, SP
  • 1994 - Raul Seixas, Musicalmente falando – Thais de Moraes - Nova Sampa Editora, SP
  • 1994 - Raulseixismo – Costa Senna - Nova Sampa Editora, SP
  • 1994 - Raul Seixas Forever – Madiel Figueiredo - Editora Ataniense, SP
  • 1994 - Raul Seixas Rock Book – Kika Seixas - Griphus Editora, RJ
  • 1995 - Raul Rock Seixas – Kika Seixas - Editora Globo, SP
  • 1995 - Raul Seixas, o Metamorfônico – Issac Soares de Sousa - Gráfica e Editora Colleta, Bariri/SP
  • 1995 - Trem das sete – Luciana Alves, Toninho Buda, Drago, Jairo Ferreira, Zelinda Hypólito, Ayrton Mugnaini Jr., Costa Senna - Nova Sampa Editora, SP
  • 1995 - A trajetória de um ídolo – Thildo Gama - Pen Editora, SP
  • 1997 - Raul Seixas, entrevistas e depoimentos – Thildo Gama - Pen Editora, SP
  • 1999 - Triângulo do Diabo – Opus 666 – Jay Vaquer - Girl Press
  • 1999 - A Paixão Segundo Raul Seixas - Toninho Buda - Editora Maya, SP
  • 1999 - Dez Anos Sem Raul Seixas - Tiago Sotero de Sá & Mirella Franco Barrella - Produção Alternativa, SP
  • 1999 - Luar aos Avessos - Angelo Sastre - Scortecci Editora, SP
  • 1999 - Raul Seixas - Biografia - Coleção Gente do Século - Regina Echeverria - Editora Três, SP
  • 2000 - Raul Seixas, a História que não foi contada - Elton Frans - Irmãos Vitale Editores, SP
  • 2002 - Raul Seixas: A Verdade Absoluta - Filosofias, Políticas e Lutas - Mário Lucena - McBel Oficida de Letras, SP
  • 2003 - Raul Seixas - Dez Mil anos à frente - Marco Haurélio - M2Mídia
  • 2004 - Raul Seixas e a modernidade: Uma Viagem na contramão - Sonielson Juvino Silva - Marca de Fantasia, PB
  • 2005 - Raul no Caldeirão - David E. Martins - Catedral das Letras, Petropolis/RJ
  • 2005 - O Baú do Raul Revirado (Incluí CD com raridades) - Silvio Essinger - Ediouro, RJ
  • 2007 - 30 Anos de Rock: Raul Seixas e a cultura brasileira - Dílson César Devides - Editora Corifeu, Rio de Janeiro/RJ
  • 2007 - Vivendo A Sociedade Alternativa: Raul Seixas no seu tempo - Luiz Lima - Terceira Margem, São Paulo/SP
  • 2008 - O Protesto dos Inconscientes - Raul Seixas e a Micropolítica - Juliana Abonizio - ECCO UFMT, Cuiabá/MT
  • 2008 - Krig-ha, Bandolo! Cuidado, Aí Vem Raul Seixas! - Rosana da Câmara Teixeira - 7 Letras FAPERJ, Rio de Janeiro/RJ
  • 2009 - Raul Seixas - Metamorfose Ambulante - Vida, alguma coisa acontece; Morte, alguma coisa pode acontecer - Mário Lucena, Laura Kohan e Igor Zinza - Coordenação: Sylvio Passos, B&A Editora, Sao Paulo/SP
  • 2009 - O Baú do Raul Revirado (Audio Book/Audiolivro) - Org. Silvio Essinger, Narrado por Tico Santa Cruz e o grupo Voluntários da Pátria, com Nelson Motta, Kika e Vivian Seixas - PlugMe Editora, Rio de Janeiro/RJ
  • 2010 - Novo Aeon - Raul Seixas no Torvelinho de seu tempo - Vitor Cei Santos - Editora Multifoco, Rio de Janeiro/RJ

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Outros álbuns - Raul Seixas

  • 1972 - Carnaval Chegou (Coletânea com vários artistas. Raul canta a faixa Eterno Carnaval)
  • 1973 - Phono 73 O Canto de um Povo - Volume 1 (LP gravado ao vivo em 1973 com vários artistas da gravadora Philips. Raul aparece com a música Loteria de Babilônia)
  • 1975 - Hollywood Rock (Falso álbum ao vivo, lançado somente em LP, e dividido com Erasmo Carlos, O Peso e Rita Lee)
  • 1979 - O Banquete dos Mendigos (LP duplo gravado ao vivo em 1973 com vários artistas. Raul aparece com a faixa Cachorro - Urubu)
  • 1987 - Duplo Sentido (LP duplo da banda baiana Camisa de Vênus no qual Raul canta na faixa Muita Estrela, Pouca Constelação)
  • 1995 - Vida e obra de Johnny McCartney - Álbum do cantor e compositor Leno, gravado (e censurado) em 1971. Raulzito (Raul Seixas) participa na produção, composições e vocais

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Tributos - Raul Seixas

  • 2004 - O Baú do Raul: Uma Homenagem a Raul Seixas

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Trilhas sonoras - Raul Seixas

  • 1973 - A Volta de Beto Rockfeller
  • 1973 - Rosa dos Ventos
  • 1974 - O Rebu
  • 1983 - Plunct, Plact, Zuuum
  • 1984 - Plunct, Plact, Zuuum II
  • 2002 - Cidade de Deus
  • 2009 - Viver a Vida

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Caixas / Box - Raul Seixas

  • 1995 - Série Grandes Nomes: Raul (Caixa com 4 CDs e livreto ilustrado)
  • 2002 - Maluco Beleza (Caixa com 6 CDs e livro ilustrado)
  • 2009 - 10.000 Anos à Frente (Reedição da caixa Maluco Beleza)

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Singles póstumos - Raul Seixas

  • 1993 - A Maçã / Como Vovó Já Dizia / Sociedade Alternativa / Gita (CD - Philips)
  • 1993 - Jay Vaquer Featuring Raul Seixas - Mosca na Sopa / 72 en 92 (CD - Girl/USA)
  • 1998 - Morning Train (Promo - CD - MZA/Polygram)
  • 1998 - É Fim de Mês (Promo - CD - MZA/Polygram)

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Álbuns ao vivo - Raul Seixas

  • 1984 - Ao Vivo - Único e Exclusivo
  • 1991 - Eu, Raul Seixas (Show na Praia do Gonzaga, Santos, 1982)
  • 1993 - Raul Vivo (Reedição de Ao Vivo - Único e Exclusivo com faixas extras)
  • 1994 - Se o Rádio Não Toca... (Show em Brasília, 1974)

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Coletâneas - Raul Seixas

  • 1981 - O Melhor De Raul Seixas
  • 1982 - A arte de Raul Seixas
  • 1983 - O Pacote Fechado de Raul Seixas
  • 1985 - Let Me Sing My Rock And Roll
  • 1985 - Raul Seixas Rock
  • 1986 - Caminhos
  • 1986 - Raul Rock Seixas Volume 2
  • 1987 - Caroço de Manga
  • 1988 - Metamorfose Ambulante
  • 1988 - O Segredo do Universo
  • 1988 - Raul Seixas Para Sempre
  • 1990 - Maluco Beleza
  • 1991 - As Profecias (Contém uma faixa inédita)
  • 1993 - Os Grandes Sucessos de Raul Seixas
  • 1994 - Minha História
  • 1995 - Geração Pop Vol.2: Raul Seixas
  • 1996 - MPB Compositores 4: Raul Seixas
  • 1998 - 20 Grandes Sucessos de Raul Seixas
  • 1998 - Preferência Nacional
  • 1998 - Música! O Melhor da Música de Raul Seixas
  • 1999 - Millennium: Raul Seixas
  • 2000 - Areia da Ampulheta
  • 2000 - Enciclopedia Musical Brasileira
  • 2001 - Warner 25 Anos: Raul Seixas
  • 2002 - Série Identidade: Raul Seixas
  • 2002 - Série Gold: Raul Seixas
  • 2003 - Anarkilópolis (Contém uma faixa inédita)
  • 2003 - Os Melhores do Maluco Beleza
  • 2004 - Essential Brasil: Raul Seixas
  • 2005 - Novo Millennium: Raul Seixas
  • 2005 - Série Bis: Raul Seixas
  • 2006 - Warner 30 Anos: Raul Seixas
  • 2008 - Sem Limite: Raul Seixas

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Álbuns póstumos - Raul Seixas

  • 1992 - O Baú do Raul
  • 1998 - Documento
  • 2005 - O Baú do Raul Revirado (CD com raridades vendido somente com o livro de mesmo nome)
  • 2009 - 20 Anos sem Raul Seixas (Reedição de Documento com uma faixa inédita extra)

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Álbuns de estúdio - Raul Seixas

  • 1968 - Raulzito e os Panteras
  • 1971 - Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 (Com Sérgio Sampaio, Míriam Batucada e Edy Star)
  • 1973 - Krig-ha, Bandolo!!
  • 1973 - Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock
  • 1974 - Gita
  • 1974 - O Rebu (Trilha sonora da novela de mesmo nome - contém músicas inéditas até então)
  • 1975 - 20 Anos de Rock (Reedição de Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock)
  • 1975 - Novo Aeon
  • 1976 - Há 10 Mil Anos Atrás
  • 1977 - O Dia Em Que a Terra Parou
  • 1977 - Raul Rock Seixas
  • 1978 - Mata Virgem
  • 1979 - Por Quem Os Sinos Dobram
  • 1980 - Abre-te Sésamo
  • 1983 - Raul Seixas
  • 1984 - Metrô Linha 743
  • 1985 - 30 Anos de Rock (Reedição de Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock)
  • 1985 - Let Me Sing My Rock And Roll (Coletânea lançada em tiragem limitada somente em LP)
  • 1986 - Raul Rock Seixas Volume 2 (Coletânea com faixas inéditas)
  • 1987 - Caroço de Manga (Reedição de Let Me Sing My Rock And Roll lançado em LP e CD)
  • 1987 - Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!
  • 1988 - A Pedra do Gênesis
  • 1989 - A Panela do Diabo (Com Marcelo Nova)

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Raul Seixas - Profeta? Messias? Bruxo? Ou simplesmente um personagem criado pela imaginação dos fãs?


O início

A chave para decifrar o enigma Raul Seixas mantém-se à margem do mercado, escondido numa pequena chácara na zona rural da cidade de Miguel Pereira, no Rio de Janeiro. Cláudio Roberto Azeredo conheceu Raul aos 11 anos, através de uma namorada, a escritora Heloísa Seixas. Compuseram a primeira música juntos em 1964, "I Don't Really Need You Anymore", só gravada 25 anos depois. Juntos, compuseram cerca de 30 canções e muitos sucessos, como "Aluga-se", "Cowboy Fora-da-Lei", "Quando Acabar o Maluco Sou Eu", "Coisas do Coração" e "Rock das Aranha", além de todo o LP O Dia em que a Terra Parou. "Raul era uma pessoa muito difícil", admite Cláudio, com a sinceridade a que só os amigos próximos têm direito.

Cláudio e Raul mantiveram contato distante até que, em 1968, Raul resolveu tentar a sorte de sua banda, Os Panteras, no Rio de Janeiro. A iniciativa foi frustrada. Raul voltou para Salvador, casou-se, abandonou a música por alguns meses e só fixou residência no Rio de Janeiro dois anos depois, quando arrumou emprego de produtor na CBS, onde trabalhou com artistas como Trio Ternura, Renato & Seus Blue Caps, Leno e Jerry Adriani. Foi expulso da gravadora em julho de 1971, depois de haver produzido, por baixo do pano, um disco absolutamente experimental, Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez, influenciado por Frank Zappa.

RAUL ENCONTRA O ALQUIMISTA

Certo dia, Raul leu uma matéria sobre discos voadores na revista 2001, editada no Rio de Janeiro pelo mochileiro bicho-grilo Paulo Coelho. Raul convidou Paulo para um jantar em seu apartamento e mostrou algumas músicas que havia feito – bem diferentes das que costumava compor para os contratados da CBS - e propôs a Paulo que fizesse a letra para algumas delas. A partir de então, passaram a preparar alguns temas para o primeiro disco solo de Raul, Krig-Há-Bandolo, que seria lançado em julho de 1973.

No mesmo ano, Raul foi levado por Paulo a conhecer uma sociedade secreta de que o escritor fazia parte, conhecida como Argentum Astrum, AA. Era uma organização filosófica anti-religiosa e cheia de rituais, baseada nos ensinamentos do bruxo inglês Aleister Crowley (1875 - 1947).

Em sua época, Crowley foi marginalizado pela moral vitoriana, chegando a ser chamado de "o homem mais perverso do mundo". Autodenomidado a "Besta 666", seu trabalho consistia basicamente em revelar segredos de livros mágicos e propor, a partir desses segredos, uma nova ordem social (não é à toa que Crowley entrou na moda durante os revolucionários anos 60/70). Sua obra central chamava-se O Livro da Lei. Dizia basicamente que cada homem é seu próprio deus e, por isso, os fortes se sobrepunham aos fracos.O material que emergia da parceria de Paulo e Raul foi muito influenciado por Crowley. Algumas músicas chegam a copiar os textos do bruxo, como "Sociedade Alternativa" e "Liber Oz" (gravada 14 anos depois, com o nome de "A Lei"). Na verdade, todo o repertório do segundo disco de Raul seria colocado "a serviço daquela sociedade secreta", conforme revelou Paulo Coelho no livro Confissões de um Peregrino (editora Objetiva).

O compacto com a faixa "Gita" (cuja letra foi inspirada no Bhagavad-Gita , a mais popular das escrituras sagradas da Índia antiga) foi lançado em julho de 1974 e vendeu 600 mil cópias, dando a Raul seu primeiro disco de ouro. O LP foi lançado logo em seguida, também com grande sucesso. Conforme ia crescendo a popularidade da dupla, Raul e Paulo passaram a realmente acreditar na viabilidade da Sociedade Alternativa. Chegaram a divulgar a construção da Cidade das Estrelas, em Minas Gerais, que funcionaria como o quartel-general da seita. "Vivíamos no mais profundo negrume da ditadura", lembra Pena Schmidt. "Mas Raul propunha o oposto daquilo, numa saída individual, que era um tipo de discurso poderoso mas tolerado pelos manipuladores de informação da Censura". A partir de "Gita", Raul passou a ser visto pelos fãs como uma espécie de conselheiro, de guru. Mães começaram a trazer seus filhos doentes para que ele os curasse.

Rita Lee acredita que a imagem mística que Raul assumiu nesta época pouco tinha a ver com temor religioso. "Me parece que depois que Paulo Coelho entrou na vida de Raul como parceiro de trabalho e de aventuras no mundo da magia, Raul praticamente neutralizou sei jeito Presley de ser e mudou, feliz, para o papel de Profeta Apocalíptico. O fã radical de Elvis ingeriu uma overdose de misticismo e se transformou num guru". Cláudio Roberto acha que o que falou mais alto foi o business: "Era algo do tipo 'oba, isso dá fama e dinheiro, é nessa que eu vou', era show". Ele confessa que viu com desconfiança a aproximação de Raul e Paulo Coelho. "Raul abraçou toda a megalomania, todo o sonho de poder de Paulo, e isso fez muito mal a ele", acredita. "Esse dedo em riste na capa do Gita foi definitivo numa ferida já aberta, porque mostrava Raul assumindo uma coisa que ele sabia não ser ele, algo falso".

Em maio de 1974, a polícia apreendeu e incinerou a maioria dos 20 mil exemplares do gibi-manifesto A Fundação de Krig-Há (patrocinado pela Philips), considerado material subversivo. Raul e Paulo Coelho foram presos e torturados. Raul exilou-se nos Estados Unidos, apoiado pela família americana de sua esposa. Voltou logo depois, mas dali em diante as coisas já seriam diferente.

DEMÔNIOS E OUTROS BICHOS

Paulo Coelho abandonou a AA depois de ser surpreendido por uma personificação do demônio. Raul continuou por mais alguns meses. O relacionamento entre os dois já havia esfriado, assim como a fase de sucesso de Raul. Tentaram restabelecer a parceria três anos depois, alugando quatro suítes em um hotel em Campos do Jordão. Mas não se falavam, apenas trocavam anotações por baixo da porta. Depois de cinco dias trancado no quarto, Raul foi encontrado desmaiado, vítima de inanição.

Passados 25 anos, ainda pouco se sabe sobre a sociedade de que participaram - Paulo nem sequer pronuncia o nome dela. Raul nunca mais tocou no assunto, mas sabe-se que tanto ele quanto sua esposa na época, Gloria Vaquer, abandonaram os rituais após visões desesperadoras que misturavam demonismo e alucinação psicodélica.

O disco Novo Aeon, lançado em outubro de 1975, marcava nitidamente a transição pessoal do cantor. Nas entrevistas de divulgação do disco, Raul tentava dissociar-se da imagem de pregador, dizendo que a verdade estava em cada um e que tentar doutrinar seu público havia sido um erro. "Não sei se ele estava preparado para gerenciar seu próprio carisma", pondera Marcelo Nova. "Essa idolatria, essa coisa de 'Raul sabe-tudo', era perigoso. Nas entrelinhas das canções, ele tentava dizer que não sabia de nada: 'faça você', procure seu caminha', 'eu sou é raulseixista', mas nem todo mundo entendia". Cláudio Roberto, que estreara como parceiro em vinil justamente no disco Novo Aeon, tenta analisar a dubiedade do sucesso que, acredita, acabou por seduzir o amigo: "o sucesso é apenas o fenômeno de preencher uma lacuna do mercado na hora certa", sentencia. "O real talento de um artista só pode ser medido pela sua capacidade em não se deixar manipular pelo momento do sucesso. E Raul não teve essa capacidade".

Apesar de todos os esforços de Raul, a imagem patrocinada pela indústria do disco falou mais alto e, até hoje, muitos fãs buscam orientação espiritual na obra do cantor. Segundo Cláudio Roberto, quem mais precisava de conselhos era o próprio Raul. "Ele era extremamente ambíguo e indefeso, uma pessoa muito sensível", afirma. "Tinha um senso de humor agudo, mas ao mesmo tempo era muito sério e formal, e isso tornava tudo muito sensível", afirma. "Tinha um senso de humor agudo, mas ao mesmo tempo era muito sério e formal, e isso tornava tudo muito mais difícil para ele. Raul era uma criança, morreu dizendo que havia entrevistado John Lennon, até mesmo para mim, quando isso era mentira - ele era absolutamente autêntico dentro dessa falta de autenticidade, o que me faz amá-lo muito mais e absolvê-lo por isso".

Em 1977, Cláudio sobrevivia dando aulas de inglês e vendendo mocassins nas feiras hippies da cidade, quando Raul o convidou para, juntos, comporem seu primeiro disco na gravadora WEA. "Nos discos que lançou pela WEA ele buscou a absolvição pelos erros do passado", avalia Cláudio. "O sucesso fez muito mal a ele, ele bebeu o sucesso todo. Eu, que o conhecia desde antes da bebida, convivi com uma pessoa cerimoniosa, que nunca perdia a linha. Virávamos noites compondo em hotéis, eu de cueca, detonando, e ele de terno e gravata, absolutamente formal".

Cláudio e Raul passaram três meses trabalhando no novo repertório. O Dia em que a Terra Parou foi lançado com todas as regalias que um artista poderia querer. Curiosamente, diz Cláudio, foi a partir deste disco que teve início a decadência pessoal e artística de Raul. "Ele descobriu que poderia usufruir de uma maneira 'light' de compor, mesmo sendo verídica. Mas era preciso fazer uma reavaliação muito grande de valores - imagine, uma pessoa tão solapada por tantos vícios, não só químicos como mentais e posturas..."

Na opinião de Cláudio, o sucesso da faixa "Maluco Beleza" ("Enquanto você se esforça pra ser / um sujeito normal / e fazer tudo igual / eu do meu lado, aprendendo a ser louco / maluco total / na loucura real") teria muito a ver com esse preocesso. "Esta faixa foi, provavelmente, o primeiro hit dele que não era um chiste, uma provocação. Ao contrário, é uma música autêntica, melancólica - é a história de um cara assumindo que não tem controle sobre sua loucura, é foda isso. Mas quando você constrói uma vida em cima de determinados vícios de postura, aí, malandro, é muito difícil. Mas Raul teve a chance de mudar isso, e não quis. Talvez por haver passado tanto tempo sendo um mistificador, ele tenha subestimado a força da autenticidade e superestimado a sua capacidade de manipulação. Mas o tempo julga pela verdade, pela causa e efeito do que você faz, não pelo sentimento do fã, que age apenas pela emoção". Depois desse disco, acredita Cláudio, Raul ficou "artisticamente em cima do muro".

"RAUL JÁ NÃO ERA ELE MESMO"

Os dois amigos, no entanto, continuaram compondo até a morte do cantor. Chegaram a planejar um novo LP em 1978, mas brigaram depois que Cláudio o acusou de haver registrado uma música da dupla em nome de Oscar Rasmussem - a faixa seria "Por Quem os Sinos Dobram".

Cláudio só voltou a ver Raul no início dos anos 80, mas encontrou outra pessoa. "Ele já havia se entregado, o corpo estava cansado de tanta luta inglória - 'é preciso sobreviver, é com isso que eu vou', sabe? O problema dele era lutar até alcançar, depois a motivação desaparece - 'eu me pergunto e daí, foi tão fácil conseguir' (da letra 'Ouro de Tolo'), isso é o resumo de sua vida", acredita. "Vi um show, em 1980, em que Raul enfrentou uma platéia absolutamente gelada, que estava lá para colocar a última pá de cal sobre seu cadáver insepulto. Até o meio da segunda música, ele tocou completamente ensandecido, numa performance que eu nunca havia visto. A audiência não resistiu e foi ao delírio - foi o que bastou para Raul começar a esquecer a letra, tropeçar e fazer uma merda de show. A impressão era a de que ele não suportava conseguir, conquistar".

Mas já era tarde, Raul Seixas já havia conseguido e conquistado. Isso consumiu sua vida, é verdade, mas seu trabalho atravessa as décadas como a voz oficial de uma raça que nunca se extingue: a dos malucos. Mesmo que fosse uma "criança" curiosa, como define "Cláudio Roberto, e não o filósofo onipotente, como o próprio Raul acreditou ser nos tempos de "Gita". A perenidade de seu trabalho foi posta à prova e será mais uma vez nestes dez anos de sua morte: a WEA planeja relançar seu disco Por Quem os Sinos Dobram em CD, incluindo letras, notas biográficas e o encarte original. Depois de tudo, só nos resta a música de Raul para ouvir. E já esta de bom tamanho. O Meio

Os anos 80 foram cruéis para Raul. "Naquela época, ele não atendia telefones nem respondia a qualquer tentativa de aproximação", lembra Rita Lee. "Ele se cercou de vampiros que lhe sugaram até a última gota de sangue." Ao mesmo tempo, Raul era considerado persona non grata por produtores de shows, de eventos e por gente de gravadora. "Havia muitas ramificações ao redor dele, gente que tentava armar show com banda que Raul desconhecia, gente que vendia shows no interior em nome dele sem que ele soubesse, gente que tomava adiantamento de apresentações que ele nunca marcou", diz Marcelo. "Lembro que, certa vez, a secretária de Raul me ligou em casa, dizendo que havia um cara na casa dele, ameaçando-o de morte porque ele não queria fazer uma temporada de banquinho e violão no Amazonas e em Belém do Pará."

CARATECAS, DROGAS E TIROS

Na verdade, o inferno astral de Raul começou ainda no final dos anos 70, quando lançou um disco sem repercussão chamado Por Quem os Sinos Dobram, escrito ao lado de um novo parceiro, Oscar Rasmussen, com quem dividia o apartamento na época. Raul costumava agregar a seu redor os tipos mais estranhos e sombrios, numa versão tropical da "máfia de Memphis" que acompanhava Elvis Presley. Em 1979, ele teve a inacreditável idéia de contratar uma equipe de caratecas argentinos como seguranças. Tanto ele e Oscar quanto os seguranças varavam as noites em festas regadas a álcool e drogas das mais variadas. Numa transação obscura entre os caratecas e traficantes, o faixa preta Hugo Amorrotu foi assassinado a tiros, dentro do apartamento de Raul, num evento que demonstra o grau de descontrole que sua vida havia tomado. O corpo de Raul sentiu as pancadas do destino: o cantor foi internado, retirou metade do pâncreas no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e passou alguns meses hospedado na casa dos pais na Bahia. No ano seguinte, voltou à gravadora CBS (atual Sony Music), onde trabalhara como produtor nos anos 60. O disco que gravava, Abre-te Sésamo, foi, verdadeiramente, o último espasmo do cantor implacável e rebelde dos anos 70. O repertório, inspirado, era sua grande aposta.

PRINCESA DIANA, NÃO!

No entanto, Abre-te Sésamo foi, do início ao fim, um disco marcado por problemas e coincidências infelizes. Primeiramente por conta da Censura, que implicou com a balada "Baby" e o verso "por que esconder o vermelho/ do sangue tingido o lençol?", que virou "a mancha do batom vermelho/ por que esconder no lençol?". Depois, novamente censurado por conta da faixa "Rock das Aranha" (composta como piada e gravada como molecagem). Logo depois da gravação, a diretoria da CBS mudou e o disco foi mal divulgado e pessimamente distribuído. Aparentemente, a gravadora de Roberto Carlos e Amelinha não estava gostando muito da idéia de ter um encrenqueiro do calibre de Raul Seixas em seu cast. Aproveitando a relação desgastada, a gravadora propôs ao cantor que compusesse algo tendo o casamento da princesa Diana e príncipe Charles como tema. Raul respondeu com o pedido de rescisão de contrato.

Sem trabalho, Raul passou a divulgar planos mirabolantes, como filmar em Hollywood, candidatar-se a deputado federal e lançar um livro infantil. Pretendia prensar um disco pirata, chamado The Pirate Record (sic), com gravações raras de sua antiga banda Os Panteras, feitas nos anos 60. O assassinato de John Lennon tornou o cantor, normalmente avesso aos shows, ainda mais recluso. Um show na cidade de Caieiras, em São Paulo, foi desastroso: Raul foi confundido com um impostor e por pouco não foi linchado pelo público. Acabou levado à delegacia, onde foi esbofeteado e encarcerado.

Eventos assim só desgastavam sua imagem e o empurravam ainda mais para o alcoolismo. Seu vício foi progredindo de maneira proporcional à sua falta de atividade profissional. Sua esposa na época, Kika Seixas, passou a utilizar de seus contatos como assessora de imprensa para tentar reerguer a carreira do cantor. Depois de dois anos de tentativas, finalmente uma boa notícia: Raul foi chamado por Augusto César Vanucci para estrelar um especial infantil da TV Globo chamado Plunct Plact Zum, interpretando o personagem Carimbador Maluco. Animado, ele compôs um tema infantil, inspirado pela filha Vivian, de 2 anos. O sucesso da inocente canção rendeu seu segundo disco de ouro. Os fãs buscaram nos versos da canção alusões ao anarquismo, mas a música tratava mesmo de um personagem infantil - tanto que, em dezembro, Raul, vestido de Carimbador Maluco, cantou no estádio do Maracanã, na festa de chegada do Papai Noel, ao lado da Turma do Balão Mágico, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

O cansaço físico e profissional falou mais alto que a boa fase "família" do cantor. Raul voltou a beber, e muito. Kika deixou-o em 1984. "Minha filha já estava crescendo e o pai dela bebendo o tempo todo", lembra. "Nos últimos anos Raul não tomava mais banho, estava sempre deprimido, não comia mais alimentos sólidos, se urinava sempre. Mas nunca perdeu a força de vontade, sempre de bom humor, fazendo planos para o futuro". Wanderléa, que conheceu Raul nos anos 60 e chegou a dividir com ele os vocais da faixa "Eu Quero Mais" (do LP Raul Seixas, de 1983), lembra que Raul passava os dias sozinho, trancado em seu apartamento: "De meias, chinelos, às vezes de luvas, assistindo a horas e horas de vídeos de seus heróis de adolescência, Jerry Lee Lewis, Little Richard, Elvis Presley". O mesmo cantor que bradava contra a nostalgia em 1975 transformava-se em um personagem saudoso e reacionário. "A partir de determinado momento, aqueles vídeos passaram a ser a única relação dele com o ambiente que amava, que um dia o motivara a cantar", lembra.

Do início ao fim, a década de 80 viu Raul entregando-se a seus excessos, deixando-se devorar pelo monstro que se formava ao redor de seu nome. Desistindo de viver. "Ele perdeu o interesse pela carreira", analisa Marcelo Nova. "O que o desmotivou, eu não sei. Ele era muito popular, e isso implica muita solidão, porque todo mundo te conhece, mas você não conhece ninguém", cogita. "Ele era muito simples e as pessoas abusavam um pouco disso. Mas o que o teria desanimado dessa forma ainda é uma incógnita". O Fim

Raul dos Santos Seixas morreu aos 49 anos, de parada cardíaca. Já vivia havia nove anos sem dois terços do pâncreas. Diabético, driblava como podia as injeções de insulina ("Odeio injeção, por isso nunca fui junkie", dizia), mas não dispensava chocolate. Alcoólatra, seu café da manhã consistia de um copo de vodca com suco de laranja no bar mais próximo de casa, seguido de doses paulatinas de éter ao longo do dia. Separado de sua quinta esposa, Lena Coutinho, desde 1988 morava sozinho num pequeno flat alugado no Centro de São Paulo. Num destes cavalos-de-pau que o destino dá, um homem que odiava apresentar-se ao vivo e digladiava-se com gravadoras morreu descansando de uma maratona de 50 shows realizados ao lado do fã e último parceiro, Marcelo Nova. Naquela mesma semana, chegaria às lojas A Panela do Diabo, disco da dupla lançado pela multinacional WEA. E mais shows estavam programados até dezembro, quando a turnê seria encerrada com uma festa no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

"Muita gente dizia que esta turnê não daria em nada: 'ah, o porralouca do Marcelo e o cachaceiro do Raul', mas Raul excursionou, fez 50 shows e não faltou em nenhum, mesmo quando estava com crise de diabetes", lembra Marcelo. "Por que, eu não sei. Raul só fazia o que queria e não havia ninguém no mundo para convencê-lo do contrário."

TOCA, RAUL!

Amigos desde 1984, a relação entre Raul e Marcelo Nova (ex-membro do grupo de rock baiano Camisa de Vênus) cresceu inicialmente movida pela paixão comum pelo blues e o rock dos anos 50. A parceria musical surgiu quatro anos depois, quando Marcelo decidiu visitar o amigo e deu-se conta do estágio terminal de sua vida e sua carreira. "Na verdade, não havia mais carreira. Ele estava parado há quatro anos, longe de seu público. Um dia cheguei em sua casa e ele estava sem um dente, abatido, bêbado, pesando 55 quilos. Alguma coisa precisava ser feita, não dava para assistir aquilo de braços cruzados. Levei Raul ao médico da minha família, que o examinou do cabelo à unha do pé e me disse que a única coisa a receitar era trabalho, já que ele se recusava a parar de beber", lembra.

"O esforço do indivíduo Raul Seixas em estar presente naquela turnê sempre foi subestimado", acredita Marcelo. "Já li muito sobre o 'andar trôpego e cambaleante' de Raul, mas, independentemente disso, ele pegava o microfone e, bem ou mal, com energia ou sem, subia no palco e cantava. Quem sabia dos problemas pessoais e físicos que ele enfrentava, sabe que se tratava de um esforço quase heróico".

Durante as gravações de A Panela do Diabo, o esforço de Raul atingiu seu ponto mais alto de emoção e simbolismo, como bem lembra o produtor Pena Schimidt: "O ritmo das gravações obedecia ao ritmo de Raul. Gravávamos uma estrofe de manhã, parávamos à tarde, retornávamos no dia seguinte e assim foi durante o tempo todo". Este ritmo seria seguido até o momento de gravar o número solo de Raul no LP, uma faixa chamada "Nuit", que ele havia composto em 1981 e, inexplicavelmente, mantinha inédita. Pena lembra que, neste dia, ele se viu diante do velho Raul Seixas hipnótico e poderoso que conhecera no Festival de Saquarema, em 1975. "Ele pediu para que todas as luzes fossem desligadas e exigiu gravar os vocais numa tacada só, sem retoques", lembra. "E assim foi, apesar de Raul Ter perdido a voz nos últimos versos. Quando as luzes se acenderam, todos no estúdio estavam com os olhos rasos d'água, porque entendiam que aquela letra era um bilhete de despedida". Versos como "quão longa é a noite/ a noite eterna do tempo/ se comparada ao curto sonho da vida" não deixam dúvidas - e os motivos que levaram a canção a permanecer reservada por tanto tempo foram finalmente esclarecidos.

ON THE ROAD

E mesmo na estrada, nos quase 12 meses de duração da turnê, a dupla manteve-se constantemente nos limites do imaginário rock'n'roll. Marcelo, num misto de sensibilidade histórica, ingenuidade adolescente e filantropia rocker; Raul, agarrando-se no fio de possibilidade que ainda lhe restava para provar, para si próprio, que a velha metamorfose ambulante poderia gingar feito Elvis. "Acredito que a turnê tenha dado motivação para o homem, não para o artista, que este não precisava", conta Marcelo. "Havia uma parte do meu coração querendo devolver um pouco de inspiração que ele havia me dado quando eu queria montar um grupo de rock na Bahia, aos 16 anos. Todos estavam muito motivados: no camarim, a banda era capaz de parar de beber para que Raul não visse que havia uísque, e ir lá conversar com ele, animá-lo, distraí-lo. Muitas vezes tivemos que tirar neguinho do quarto do Raul na porrada, porque os caras entravam lá no hotel com sacos enormes de cocaína, como presente para ele". No final, eram 18 pessoas trabalhando para que Raul Seixas "fosse aplaudido, como foi", depois de anos e anos à margem da cultura pop brasileira. A Morte

O escritor Paulo Coelho fazia sua segunda peregrinação depois da conversão ao cristianismo, o Caminho de Roma, também conhecido como Caminho Feminino. Era manhã de segunda-feira, 21 de agosto de 1989, quando Paulo interrompeu sua caminhada em um pequeno vilarejo perdido na cadeia montanhosa dos Pirineus, na França, e ligou para a esposa, Cristina Oiticica, no Rio de Janeiro. Com apenas três moedas no bolso, precisava falar rápido. "Olha, Paulo, não sei se devo te estragar o dia com notícias ruins", dizia a mulher do outro lado da linha, depois das necessárias saudações e troca de carinhos. "Pode falar, mas fala logo que a ligação vai cair", ele pediu com urgência. Cristina disse: "O Raul morreu". E a ligação caiu.

ALEGRIA NA MORTE

Paulo já havia escrito dois de seus grandes sucessos, Diário de um Mago e O Alquimista, mas muito de sua fama ainda se devia aos primeiros anos da década de 70, quando, ao lado de Raul Seixas, escreveu 65 canções, entre elas alguns dos maiores clássicos da música pop brasileira, como "Sociedade Alternativa", "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" e "Medo da Chuva". "Quando a linha caiu, fiquei sem saber por que meu parceiro havia morrido, sem saber em que circunstâncias - só poderia ligar de volta à noitinha - mas senti uma profunda alegria, uma sensação muito positiva, como se Raul estivesse bastante feliz por haver morrido."

Durante o sono, às 5 horas da manhã daquela segunda-feira, Raul encerrava a luta que travava consigo mesmo havia mais de dez anos. Preso no emaranhado de mitos e lendas que ele próprio havia criado, o cantor passou toda a década de 80 deixando-se consumir pelo cansaço da batalha. Ao morrer, terminava uma história secreta, muito mais melancólica do que a que fora registrada em suas canções. Magia e rock'n'roll e carisma e insegurança e fanatismo e fraquezas alimentaram a trajetória mais estranha que o Brasil já presenciou - e que jamais procurou entender.

O DIA EM QUE A TERRA PAROU
CHORO E HISTERIA COLETIVA NO VELÓRIO DE RAUL. SUMIRAM ATÉ COM A LÁPIDE.

O descontrole emocional da multidão, que Raul tanto temia em vida, viu-se multiplicado em muito no dia de sua morte. Como forma de homenagear o cantor, a gravadora WEA reservou o salão nobre do Palácio das Convenções do Anhembi para a despedida do público. Às dez horas daquele 21 de agosro, milhares de fãs tomaram os espaços do local gritando em uníssono: "Raul não morreu!" enquanto outros, de violão em punho, lembravam sucessos do cantor. Um fã mais ousado tentou beijar o rosto do músico, perdeu o equilíbrio e acabou quebrando o vidro do caixão.

As celebridades não apareceram, com exceção de Kiko Zambianchi, Marcelo Nova, do Maestro Miguel Cidras e Kid Vinil. Neste dia, Raul era do povo. Quando os bombeiros chegaram para levar o caixão para o aeroporto, a confusão começou. Alguns garotos se penduraram nas alças, outros jogavam bilhetes sobre o ataúde. Todos gritavam "Raul! Raul!". Na tentativa de chegar mais perto do ídolo, fãs quebraram os vidros do aeroporto de Congonhas.

Já na Bahia, além da família, apenas dois fãs aguardavam o avião - e um deles declarou que esperava ver o cantor levantar-se do esquife e pregar mais uma peça no "sistema". Multidão mesmo estava reunida no Cemitério Jardim da Saudade, esperando pela visitação pública ao caixão, que ficou na capela. Três horas depois, a missa de copo presente exigia que a capela fosse fechada, o que deu início a um tumulto e a nova tentativa de invasão.

Um ano depois do enterro, um fã de 21 anos, com o rosto de Raul tatuado no braço, roubou a lápide do cantor para transformá-la em item maior do "santuário" que montava em casa, ao lado de discos, cartazes, recortes e fotos. Uma nova tentativa de furto ocorreria dois anos depois. A direção do cemitério, cansada dos furtos, finalmente decidiu pregar a lápide com concreto. Hoje Raul descança em paz. (R.A.)

Matéria publicada pela revista Trip, nº 71, (agosto 1998)


Fonte: acasadobruxo

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"Canto Para Minha Morte"

As 50 apresentações pelo Brasil resultaram naquele que seria o último disco lançado em vida por Raul Seixas. O disco foi intitulado de A Panela do Diabo, que foi lançado pela Warner Music Brasil no dia 19 de agosto de 1989.

Dois dias depois, na manhã do dia 21 de agosto, Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama pela sua empregada Dalva, por volta das oito horas da manhã, vítima de uma parada cardíaca: seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante. O LP A Panela do Diabo vendeu 150.000 cópias, rendendo a Raul um disco de ouro póstumo, entregue à sua família e também a Marcelo Nova, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua carreira.

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Altos e baixos - Raul Seixas

No ano de 1980, assina novamente contrato com a CBS (desta vez como cantor) lançando mais um álbum, Abre-te Sésamo, que contém outros sucessos e têm as faixas "Rock das 'Aranha'" e "Aluga-se" censuradas. Logo depois o contrato é rescindido.

Em 1981 nasce a terceira filha, Vivian, fruto de seu casamento com Kika.

Em 1982 faz um show na praia do Gonzaga, em Santos, reunindo mais de 150 mil pessoas. No mesmo ano, Raul apresenta-se bêbado em Caieiras, São Paulo, e é quase linchado pela platéia que não acredita que Raul é o próprio, mas um impostor.

Desde 1980 Raul estava sem gravadora e agora também sem perspectiva de um novo contrato. Mergulhado na depressão, Raul afunda-se nas drogas. Porém, em 1983, Raul é convidado para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. Logo depois, Raul é convidado para gravar o especial infantil Plunct, Plact, Zuuum da Rede Globo, onde canta a música "Carimbador Maluco". O álbum Raul Seixas (1983), que continha a canção, dá à Raul mais um disco de ouro. Em 1984 grava o LP "Metrô Linha 743" pela gravadora Som Livre. Mas depois Raul teve as portas fechadas novamente, devido ao seu consumo excessivo de álcool e constantes internações para desintoxicação. Também em 1984 a Eldorado lança o disco Ao Vivo - Único e Exclusivo.

Em 1985, separa-se de Kika Seixas. Faz um show em 1 de dezembro 1985, no Estádio Lauro Gomes, na cidade de São Caetano do Sul. Só voltaria a pisar no palco no ano de 1988, ao lado de Marcelo Nova.

Conseguindo um contrato com a gravadora Copacabana, em 1986 (de propriedade da EMI), grava um disco que foi lançado somente no ano seguinte, devido ao alcoolismo de Raul. O disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! faz grande sucesso entre os fãs, chegando a ganhar disco de ouro e estando presente até em programas de televisão, como o Fantástico. Nesta época, conhece Lena Coutinho, que se torna sua companheira. A partir desse ano, estreita relações com Marcelo Nova (fazendo uma participação no disco Duplo Sentido, da banda Camisa de Vênus).

Um ano mais tarde, 1988, já separado de Lena, faz seu último álbum solo, A Pedra do Gênesis.

A convite de Marcelo Nova, faz alguns shows em Salvador, após três anos sem pisar num palco.

No ano de 1989, faz uma turnê com Marcelo Nova, agora parceiro musical, totalizando 50 apresentações pelo Brasil. Durante os shows, Raul mostra-se debilitado. Tanto que só participa de metade do show, a primeira metade é feita somente por Marcelo Nova.

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Auge e queda - Raul Seixas

Krig-Ha, Bandolo (1973), primeiro disco de Raul com repercussão crítica e de público.


No início dos anos 1970, Raul se interessou por um artigo sobre extraterrestres publicado na revista A Pomba e teve o seu primeiro contato com o escritor Paulo Coelho, que mais tarde, se tornaria seu parceiro musical.

No ano de 1973, Raul conseguiu um grande sucesso com a música "Ouro de Tolo" no álbum Krig-Ha, Bandolo, uma música com letra quase autobiográfica, mas que debocha da Ditadura e do "Milagre Econômico".

O mesmo LP também continha outras músicas que se tornaram grandes sucessos, como: "Metamorfose Ambulante, "Mosca na Sopa" e Al Capone.

Raul Seixas finalmente alcançou grande repercussão nacional como uma grande promessa de um novo compositor e cantor. Porém, logo a imprensa e os fãs da época foram aos poucos percebendo que Raul não era apenas um cantor e compositor.

No ano de 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho criam a Sociedade Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do bruxo inglês Aleister Crowley, onde a principal lei é "Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei". Em todos os seus shows, Raul divulgava a Sociedade Alternativa com a música de mesmo nome. A Ditadura, então, através do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) prendeu Raul e Paulo, pensando que a Sociedade Alternativa fosse um movimento armado contra o governo. Depois de torturados, Raul e Paulo foram exilados para os Estados Unidos onde Raul Seixas teria supostamente se encontrado com John Lennon. No entanto, o seu LP Gita gravado poucos meses antes faz tanto sucesso, que ambos voltaram ao Brasil. O álbum Gita rendeu a Raul um disco de ouro, após vender 600.000 cópias. Ainda neste ano, Raul separa-se de Edith, que vai para os Estados Unidos com a filha do casal, Simone.

Em 1975, casa-se com Gloria Vaquer, e grava o LP Novo Aeon, onde Raul compôs uma de suas músicas mais conhecidas, "Tente Outra Vez". O LP, porém, vendeu menos de 60 mil cópias.

Em 1976, Raul supera a má-vendagem do disco anterior com o disco Há Dez Mil Anos Atrás. Neste mesmo ano, nasce sua segunda filha, Scarlet.

Naquele final de década as coisas começaram a ficar ruins para Raul. A parceria com Paulo Coelho é desfeita. O cantor lança três discos pela WEA (hoje Warner Music Brasil), a partir de 1977, que fizeram sucesso de público e desgosto na crítica (O Dia Em Que A Terra Parou, que continha canções como "Maluco Beleza" e "Sapato 36"; Mata Virgem, em 1978 e Por Quem Os Sinos Dobram, em 1979). Por volta deste período, intensifica-se a parceria com o amigo Cláudio Roberto Andrade de Azevedo (geralmente creditado como Cláudio Roberto), com quem Raul compôs várias de suas canções mais conhecidas.

A partir do ano de 1978, começa a ter problemas de saúde devido ao consumo de álcool, que lhe causa a perda de 1/3 do pâncreas. Separa-se de Glória, que vai embora para os EUA levando a filha Scarlet. Neste ano, conhece Tania Menna Barreto, com quem passa a viver.

No ano de 1979, separa-se de Tania. Começa então a depressão de Raul Seixas junto com uma internação para tratar do alcoolismo. Conhece Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, sua quarta companheira.

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Yê-yê-yê realista

Raul Seixas estava totalmente abalado pelo fracasso com Os Panteras, e a sua volta a Salvador. Escrevia ele: "Passava o dia inteiro trancado no quarto lendo filosofia, só com uma luz bem fraquinha, o que acabou me estragando a vista [...] Eu comprei uma motocicleta e fazia loucuras pela rua." No entanto a sorte começaria a mudar, um dia, Raul conhece na Bahia um diretor da CBS Discos. Mais tarde ele convidaria Raul para ser produtor da gravadora. Sem pensar duas vezes, Raul faz as malas, junto a Edith, e volta para o Rio.

Raul volta ao Rio para usar seus enciclopédicos conhecimentos de música como produtor fonográfico. Nos cadernos de composições de Raul começaria a ser alimentada uma revolução.

Esta seria a segunda chance de Raul, apostando no talento do amigo, Jerry Adriani convence o então presidente da CBS, Evandro Ribeiro, a dar a Raulzito um emprego de produtor. Raulzito trabalhou anonimamente por um bom tempo.

Raul após ter entrado na CBS, fez grandes aliados e amigos. Ainda em 1968, a dupla Os Jovens e a banda The Sunshines apostaram em suas letras. No entanto, Raul faria um grande amigo e parceiro: Leno. Da dupla Leno e Lilian. "Raulzito sempre esteve 20 anos adiante de seu tempo e Leno o compreendia; na verdade, sempre houve uma grande admiração mútua". Diria Arlindo Coutinho, da relações públicas da CBS. Em seu compacto duplo Papel Picado, lançado em 1969, Leno registrou Um Minuto Mais, versão de Raulzito para I Will (nada a ver com a canção de Paul McCartney). Também não se pode esquecer de Mauro Motta, outro grande parceiro de Raul nesta fase.

Jerry Adriani decide convocar Raulzito para ser o produtor de seus discos. No álbum de 1969, aproveitou para gravar uma de suas músicas, Tudo Que É Bom Dura Pouco. Naquela mesma época, outros ídolos da Jovem Guarda também apadrinharam Raulzito gravando suas letras como Ed Wilson, Renato e seus Blue Caps, Jerry Adriani, Odair José.

1970 marcou o início de uma fase muito ativa na carreira de Raulzito, como produtor da CBS. Primeiramente, suas composições passaram a ser gravadas pelos artistas do cast da gravadora. Passou o ano produzindo discos para Tony & Frankye, Osvaldo Nunes, Jerry Adriani, Edy Star e Diana, além de escrever uma quantidade enorme de músicas para os colegas da gravadora. Algumas de muito sucesso, como Doce doce amor (Jerry Adriani), Ainda queima a Esperança (Diana) e Se ainda existe amor (Balthazar). Raulzito nessa época passa a ter um bom emprego de respeitado produtor, que conseguira lançar suas composições como Hits na voz de outros cantoress e produzir grandes artistas. Mas Raulzito não se conformava apenas com isso, com o apoio de Sergio Sampaio, Raul passa cada vez mais a realimentar os sonhos de quando ainda morava em Salvador, que era ser um cantor.

Ao lado de Leno, Raulzito participa do Disco Vida e Obra de Johnny McCartney, disco solo de Leno, em que ambos buscam novos caminhos e experimentações. Juntos assinam letras e composições em parcerias. Foi o primeiro Lp gravado em oito canais no Brasil. As letras do Disco foram censuradas, e o Disco não foi lançado na época. Outro projeto mal sucedido seria a Sociedade Gra Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez onde Raul Seixas deu inicio a produção de um projeto de ópera-rock, tendo as letras mutiladas pela censura do Regime Militar. O Sociedade Grã Ordem Kavernista era um disco Anarquico, inspirado em Frank Zappa e o então cultuado Disco Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles misturado a elementos brasileiros, como samba, chorinho, baião. O Movimento no entanto não dera certo.

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Os Panteras

Embora Raul mantivesse um gosto muito sincero pela música, seu sonho maior era ser escritor como Jorge Amado. Na sua cidade, escutavam Luís Gonzaga todos os dias, nas praças, nas casas, em todos os estabelecimentos. Enquanto isso Raul junta-se a cena do Rock que se formava em Salvador. "Em 54/55, ninguém sabia o que era rock. Eu tocava e me atirava no chão imitando Little Richard." Com o passar com tempo a banda que chegou a ter diversos nomes, como Relampagos do Rock, formadas então pelos irmãos Délcio e Thildo Gama, passa por várias formações e em 1963, passa a se chamar The Panters, banda que agora já se tornara sensação de Salvador. A fama se espalha, e a banda é rebatizada pelo nome Os Panteras. Nessa época Raul casa-se com a americana Edith Wisner.

Em 1968, Raulzito e Os Panteras gravam seu primeiro e único Disco, Raulzito e Os Panteras. Assinando contrato com a gravadora Odeon, após encontrarem Chico Anísio e o rei Roberto Carlos, que os reconheceu nos corredores de uma grande gravadora. O Disco no entanto não teria sucesso de critica nem de público. Eládio Gilbraz, um dos panteras, diria: " De um lado havia a inexperiência de quatro rapazes, recém-chegados da Bahia, falando em qualidade musical, agnoticismo, mudança de conceitos e sonhos. Do outro lado, uma multinacional que só falava em 'comercial". Talvez não tenha sido o disco que o grupo imaginara, mas nosso sonho era gravar um disco.

A partir daí, Raulzito e Os Panteras passariam sérias dificuldades no Rio de Janeiro. Raul morava em Ipanema, e ia a pé até o centro da cidade para tentar divulgar suas músicas, não obtendo sucesso. Embora algumas vezes os Panteras recebiam ajuda de Jerry Adriani, tocando assim como banda de apoio para o mesmo, que segundo Raul o deu muita experiência e o ajudou a descobrir como se comunicar, segundo ele, suas "músicas eram muito herméticas". Raulzito passaria então fome no Rio de Janeiro (como mais tarde escreveria em Ouro de Tolo).

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A Infância - Raul Seixas

Raul Santos Seixas nasceu às 8 horas da manhã em 28 de Junho de 1945 numa família de classe média baiana que vivia na Avenida Sete de Setembro, Salvador. Seu pai, Raul Varella Seixas, era engenheiro da estrada de ferro e sua mãe, Maria Eugênia Santos Seixas, se dedicava às atividades domésticas. No próximo mês ele foi registrado no Cartório de Registro Civil de Salvador com o nome do pai e do avô paterno. Em 16 de setembro do mesmo ano, batizaram-no na Igreja Matriz da Boa Viagem.

Em 4 de dezembro de 1948, Raul Seixas ganhou um irmão, o único, Plínio Santos Seixas, com quem teria um bom relacionamento durante sua infância. Os estudos de Raul Seixas começaram em 1952, onde frequentou o curso primário estudando com a professora Sônia Bahia. Concluído o curso em 1956, fundou o Club dos Cigarros com alguns amigos. O trágico percurso escolar de Raul Seixas se iniciaria em 1957, quando ele ingressou no ginásio Colégio São Bento, onde foi reprovado na 2ª série por três anos. Um dos motivos da reprovação, segundo alguns biógrafos, é que ele, em vez de ir assistir as aulas, ouvia rock and roll — em seus primórdios — na loja Cantinho da Música. No mesmo ano, em 13 de Julho, Raul Seixas fundou o Elvis Rock Club com o amigo Waldir Serrão. Segundo a jornalista Ana Maria Bahiana, é através de Serrão que Raul Seixas começou a sair de casa e a manter uma vida social mais ampla. Segundo Raul, o encontro com Waldir foi fantástico: "me preparei todo, botei a gola pra cima, botei o topete, engomei o cabelo, e fiquei esperando ele, masclando chiclete". O Elvis Rock Club era como uma gangue, que procurava brigas na rua, fazia arruaça, roubava bugigangas e quebrava vidraças. Embora Raul não gostasse muito disso, "ia na onda, pois o rock (pelo menos ao meu ver) tinha toda uma maneira de ser".

Então, a família resolveu matricular Raul num colégio de padres, o Colégio Interno Marista, onde ele alcançou a 3ª série em 1960, mas acabou repetindo o estágio em 1961. Ao que tudo indica, nessa época Raul Seixas começou a se interessar pela leitura. O pai de Raul Seixas amava os livros e possuía uma vasta biblioteca em casa.Tão logo decifrou o mistério das letras, o garoto pôs-se a ler os volumes que encontrava na biblioteca do pai Raul. Sendo assim, as histórias que lia na biblioteca fermentavam sua imaginação e, com os cadernos do colégio, fazia desenhos, criava personagens, enredos, para depois vender ao irmão quatro anos mais novo, que acabava ficando interessado e comprava os esboços. Segundo Raul, um dos personagens principais dessas histórias era um cientista maluco chamado "Mêlo" (algo como "amalucado"), que viajava para diversos lugares imáginarios como o Nada, o Tudo, Vírgula Xis Ao Cubo, Oceanos de Cores. Segundo Raul, Melô era sua "outra parte, a que buscava as respostas, o eu fantástico, viajando fora da lógica em uma maquinazinha em que só cabia um só passageiro... Melô-eu." Plínio ficava horas ouvindo o irmão contar suas histórias, dentro do quarto dos dois, e Raul frequentemente encenava os personagens como um ator.

Ambos os irmãos tinham algo em comum: adoravam literatura, mas odiavam a escola. Mais tarde, já maduro, Raul Seixas diria: "Eu era um fracasso na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que aprendia era nos livros, em casa ou na rua. Repeti cinco vezes a segunda série do ginásio. Nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a odiá-la." De um modo ou de outro, Raul Seixas precisava frequentar a escola vez ou outra. Em uma determinada ocasião, o pai perguntou a Raul como ele ia na escola e pediu seu boletim. Raul mostrou um boletim falsificado, com todas as matérias resultando em um 10. O pai questionava se ele havia estudado, mas Maria Eugênia interrompia, dizendo algo como "Estudou nada, ficou aí ouvindo rock o tempo inteiro, essa porcaria desse béngue-béngue, de élvis préji, de líri ríchi e gritando essas maluquices." Os pais de Raul, como toda a geração da época, estranhavam o rock e ele não era muito bem vindo entre as famílias.

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Raul Seixas

Raul Santos Seixas (Salvador, 28 de junho de 1945 — São Paulo, 21 de agosto de 1989) foi um famoso cantor e compositor brasileiro, frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Também foi produtor musical da CBS durante sua estada no Rio de Janeiro, e por vezes é chamado de "Pai do Rock Nacional" e "Maluco Beleza".

Sua obra musical é composta de 21 discos lançados em seus mais de 20 anos de carreira e seu estilo musical é tradicionalmente classificado como rock e baião, e de fato conseguiu unir ambos os gêneros em músicas como "Let Me Sing, Let Me Sing". Seu álbum de estreia, Raulzito e os Panteras (1968), foi produzido quando ele integrava o grupo Os Panteras, mas só ganhou notoriedade crítica e de público com as músicas de Krig-Ha, Bandolo! (1973), como "Ouro de Tolo", "Mosca na Sopa", "Metamorfose Ambulante". Raul Seixas adquiriu um estilo musical que o creditou de "contestador e místico", e isso se deve aos ideais que vindicou, como a Sociedade Alternativa apresentada em Gita (1974), influenciado por figuras como Aleister Crowley.

Raul se interessava por filosofia (principalmente metafísica e ontologia), psicologia, história, literatura e latim e algumas crenças dessas correntes foram muito aproveitadas em sua obra, que possuía uma recepção boa ou de curiosidade por conta disso. Ele conseguiu gozar de uma audiência relativamente alta durante sua vida, e mesmo nos anos 80 continuou produzindo álbuns que venderam bem, como Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (1987) e A Panela do Diabo (1989), esse último em parceria com Marcelo Nova, e sua obra musical tem aumentado continuamente de tamanho, na medida que seus discos (principalmente álbuns póstumos) continuam a ser vendidos, tornando-o um símbolo do rock do país e um dos artistas mais cultuados e queridos entre os fãs nos últimos quarenta anos.

Em outubro de 2008, a revista Rolling Stone Brasil promoveu a Lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira, cujo resultado colocou Raul Seixas figurando a posição 19ª, encabeçando nomes como Milton Nascimento, Maria Bethânia, Heitor Villa-Lobos e outros. No ano anterior, a mesma revista promoveu a Lista dos Cem Maiores Discos da Música Brasileira, onde seu Krig-Ha, Bandolo! de 1973 atingiu a 12ª posição, demonstrando que o vigor musical de Raul Seixas continua a ser considerado importante hoje em dia.

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